23 de set. de 2010

ia ficar tudo bem

Nunca pensei que seria uma tamanha desgraça acordar pro primeiro dia de aula sem aquele ânimo natural, por quê? Eu não estava com vontade alguma de me levantar, ou imaginar em como seriam as primeiras aulas ou quem estaria em minha sala. Meus olhares baixaram, senti minha cabeça pesar, olhei minhas mãos e vi a aliança em meu dedo, aquela que simbolizava mais de um ano e alguns meses, aquela a qual me deixava com uma dor quase fatal no peito – eu não estava brincando em relação à isso, realmente doía – e enquanto os minutos passavam e meu corpo ainda estava despejado pela cama, meus pais preparavam o café, e gritavam pelo meu nome, o qual era possível ouvir na imensidão do meu quarto, silencioso.

Infelizmente tive de ir à escola, meus pais não eram do tipo que não se importariam se eu continuasse na cama pelo resto do dia, acreditem, eles eram bem tradicionais. Lá eu estava parecendo uma estrangeira no meio de todos os nacionais, foi terrivelmente horrível, eu não sabia quais palavras soltar, quais atitudes tomar, era como se eu fosse dar meu primeiro beijo, nervosismo tipo esse.

O resto da manhã foi exatamente igual ao começo, apresentações, alunos, professores, planos de aula, salas, e extras, um exacerbado blábláblá, eu só queria estar em minha cama, pois era a única coisa que me ocupava, e não me deixava chorar – pelo menos que eu saiba – e naquele exato momento, eles estariam todos juntos, sentados bem perto, grudados, felizes e dando altas risadas, e eu, eu estou sentada na carteira do fundo, uma das ultimas, encostada na parede, com o rosto apoiado em minhas mãos, fingindo se preocupar com a fala do professor de Português, ou então parecer estar feliz.

No fim do dia, as aulas finalmente acabaram, e eu havia chego a casa pra minha pequena alegria, pelo menos não teria de fingir coisa alguma. Peguei meu celular, fui à lista de contatos e selecionei seu nome, o que não era necessário, eu havia o numero dele décor, mas queria lê-lo, continuamente, chamei. Tocou, tocou e tocou várias e repetidas vezes, mas não fui atendida, uma angustia me batera sob todo o meu corpo, começara em minha cabeça, ficava mais intensa ao redor do coração e descia até minhas pernas, as deixando bambas. Liguei mais uma vez, esperei até dar caixa postal, novamente. No começo me magoei bastante por ver que ele não me atendera, justo naquela hora, aquele dia e esse momento, mas depois comecei a pensar na possibilidade do celular estar no silencioso, ou estar dentro da mochila, zilhões de ideias passaram em minha mente para tentar tirar a de ele não me atender, simplesmente por não querer.

Dormi praticamente a tarde toda, quando acordei tomei um banho relaxante e aproveitei que a casa estava vazia ainda e liguei o som num volume razoavelmente alto, talvez meu vizinho reclamasse depois. Ao sair do banho, chequei meu celular – como sempre fazia – e vi que havia três ligações perdidas, abri a lista e eram dele, fiquei feliz por um instante, mas depois me lembrei da hipótese dele não ter me atendido por simples vontade. Não fazia muito tempo que ele havia ligado, então esperei que ligasse novamente, não tive coragem de retornar, estava meio abalada ainda.

Não demorou muito a tocar novamente, o toque dele era especial, era diferente dos demais, “Airplanes”, atendi e sua voz parecia estável e serena, feliz, o oposto da minha.

- Oi amor! – ele provavelmente estava sorrindo nesse momento

- Oi vida! – tentei parecer normal, pra não preocupá-lo

- Como foi seu dia na escola nova?

- Péssimo, é claro! – usei um tom mais agressivo, queria mostrar que não estava tudo bem – Como poderia ser bom se eu não conhecia ninguém, se ninguém se preocupar em me chamar para os grupos ou ao menos pro intervalo? Ou talvez de eu ligar desesperada e triste pro meu namorado na hora do almoço e ter a chamada, provavelmente, rejeitada. Parece-me que seu dia foi ótimo não é mesmo?

- Nossa amor, eu te ligo e só recebo patada, e olha que é o primeiro dia, imagina se não fosse! Me desculpa, eu deixei meu celular na mochila, dentro da escola. Me perdoa amorzinho. – ele usou aquele tom de bebê que me fazia derreter normalmente, mas senti um ar ruim por trás da próxima fala dele.

- Tudo bem, mas por que você deixou o celular lá? Você nunca desgruda dele.

- Ah pois é, eu esqueci lá e acabei nem voltando pra pegar, logo eu estaria com ele de novo, então não me preocupei. Eu fui almoçar com as meninas no Mc Donalds.

- Como é que é? Minha mãe chegou, é melhor eu ir pra lá. Tchau, boa noite. – desliguei incontrolavelmente na cara dele e me remoí de raiva por dentro, chegou até a queimar. Deitei-me mais cedo, não tive cara nem fome para descer para o jantar, era como se tudo perdesse o sentido.

Parecia que havia alguma barreira recente entre nós, algo novo, que doía muito, era quase invisível, mas eu podia sentir. Passei a refletir por um instante, antes de tentar pegar no sono. Minha cama parecia ser tão confortante quanto um abraço naquele momento, era quente e macia, não me diria coisas ruins e não sairia dali jamais, não me abandonaria. Meu pijama já estava com a aparência amassada e meu cabelo estava molhado ainda (lê-se bagunçado). A luz da minha luminária era a única coisa que me dava à certeza de “estar” tudo bem, pelo menos ali dentro, do quarto é claro.

Por que tinha de doer tanto a distância que nos separava? Era extremamente incalculável e doentia a forma como eu te amava, e às vezes eu não sentia firmeza, não sentia nem retribuição. O que piorava tudo dentro de mim era o fato de antes ele dizer que ia ficar tudo bem.

7 de set. de 2010

(inter)câmbio

Eu estava com a cabeça recostada sobre seu ombro, subsumindo ao nosso abraço caloroso e nossa troca de olhares turvos. Fomos ao encontro da grama macia e gelada, sentados sobre ela e iluminados intensamente pelo luar, pudemos trocar beijos, parecendo para quem passava uma libido exagero, pobre dissídio deles.

Deitados, deixávamos as palavras escorrerem pela boca, sem muitas chances de correção, ou observação. Ele me olhara, com seus olhos castanhos escuros, profundamente, me deixando curiosa para saber o que ele iria me dizer, valendo ressaltar que suas expressões estavam quase risíveis.

- Você parece querer me dizer algo, o que houve? – eu estava com um olhar parcialmente preocupado

- Não é nada, quer dizer, nada demais. – seus olhos se fecharam de relance

- Por favor, seja o que for me diga logo, você está me assustando. – meus olhos se encheram de lágrimas.

- Eu te amo.

- E o que mais? Não pode ser por isso que você está preocupado e aflito.

- Eu não quero te perder, não quero nunca.

- Nem eu! Você sabe que é o amor da minha vida, mas, por favor, me diga o que está acontecendo. – uma lágrima rolou lentamente por minha face, mostrando a ele que eu estava realmente preocupada.

- É que meu pai está me forçando a viajar, no final do mês.

- Tudo bem, vá. Serão apenas algumas semanas não é mesmo? – eu sorri, tentando deixá-lo feliz

- Na verdade não, me desculpa mesmo Bi.

- Mas como não? Quanto tempo vai demorar essa viagem Theo? – enfureci por dentro

- Bem, não é exatamente só uma viagem. – ele fechou o rosto

- COMO ASSIM? Me conta isso direito, logo!

- É intercâmbio amor, no mínimo 6 meses.

- Você quer ir?

- Mas é claro... Que não! – ele me assustou por um momento

- Então não vá.

- Não é simples assim Bi, com essa viagem eu garanto um emprego dos bons aqui e ainda me especializo em várias coisas, não é só um curso de idiomas lá fora, me desculpe, eu quis contar antes, mas não tive coragem! – uma lagrima também rolou pelo seu rosto

- E quis escolher o momento mais bonito que tivemos até agora, e estragá-lo?

- Não foi intencional, mas eu vou viajar no final do mês, e não dava pra adiar mais!

- Por favor, eu preciso ficar sozinha! – soluçando de tanto chorar, me levantei e corri sem direção, esperando ficar perdida para sempre

continua...

4 de set. de 2010

indiferente

---------x para cada um que lê, um tipo de interpretação.

Havia uma crônica em seu pensamento, seu cenho franzido e seus olhos curtos, agitados. Perseguia tudo e todos, cada movimento sem faltar nenhum detalhe, se o perdia corria pra vê-lo e detalha – lo em sua mente. Desastrosamente deu-lhe com a cabeça em uma árvore, tantos movimentos ríspidos não poderiam resultar em coisa boa, mas é claro que não.

Desacordada por algum instante extenso, muitos rodavam e continuavam a rodar ao seu redor, e nada acontecia nada mais que ignorarem-na ali, exceto por um incrivelmente belo e esbelto, ao mesmo tempo forte e sofisticado, bem arrumado e elegante, simples. Parou, hesitou por um pequeno instante, observou, rondou e rondou inúmeras vezes, ajoelhou, perdeu-lhe o tempo e a segurou pelos braços, colocou - na em um banco próximo, tentou medir sua pulsação, entendia pouco de medicina, viva.

O que aconteceu entre aquele momento e o seguinte é curto, indiferente, pouco importante, o que vem a seguir talvez deva interessar mais a quem lê. Seus pés pareciam mais pesados e ela podia sentir o chão, seu corpo estava firme e sua mente reposta e descansada, arrumou-lhe o cabelo e deu a mão a aquele belo rapaz, pouco o conhecia e isso pouco importava naquele momento, no fundo, o que ela queria era sair dali.